Voltei no período eleitoral para cumprir promessas
feitas.
O texto da semana é fruto de pura falta do que fazer.
Estava eu em casa quando vi minha cachorra, Lesse (que nome original, você deve
ter pensado), e comecei a imaginar como seriam as coisas do ponto de vista
dela. Como seria sua história e seu linguajar.
Pois bem, no dia 18 de julho eu escrevi este conto com
a seguinte pergunta na cabeça:
(Ao som de Leave me alone, de Michael Jackson)
(Ao som de Leave me alone, de Michael Jackson)
E
SE MINHA CACHORRA FALASSE
Oi, meu nome
é Lesse, pelo menos é como todos por aqui me chamam, na realidade meu nome é
Kédelain, era assim que minha mãezinha me chamava. Meus antepassados vieram
para o Brasil há milhares de séculos (no calendário canino), eles eram
franceses e foram tragos por uma família de aristocratas portugueses que vieram
para cá para entrar no mercado açucareiro do então Brasil Colônia. Minha
tatara(etc)avó se chamava Madame Sartre era casada com o Lorde Frederick, eram de uma linhagem
pura e nobre.
No Brasil, o
casamento deles sofreu uma grave crise pois Madame Sartre conheceu o Duque, que
de nobre só tinha o nome, ele era mesmo um vira-latas, era escravo do engenho.
Eles tiveram um caso que foi um grande escândalo na sociedade dos cachorros
fidalgos. Quando o Lorde descobriu, mandou Jubileu, o pastor alemão da fazenda,
dar uma surra no escravo. Duque lutou bravamente, mas ainda assim teve que
fugir de lá.
Algum tempo
depois, minha tatara(etc)avó deu à luz a cinco filhotes, todos nasceram iguais
a ela, mas isso não impediu que todos comentassem que eram filhos do vira-latas
Duque e que, desta maneira, ela teria colocado fim a "pureza" de raça
que foi preservada por séculos. Se aqueles filhotes eram de raça pura ou não,
nunca se soube ao certo, mas foi assim que minha família se estabeleceu no
Brasil, pelo menos é o que reza a lenda.
É por causa
desta história também, que as cadelas da cidade vivem dizendo que não tenho pedigree, que sou uma vira-latas tanto
quanto o Rex, o pulguento que vive aqui no sítio. Mas, quer saber? Pouco me
importa se tenho ou não pedigree, não sou como as outras poodles que são cheias de frescurinhas e que vivem falando mal da
vida dos outros.
Se isso for
ter pedigree prefiro ser uma vira-latas!
Minha tatara
(sei lá o quê) avó estava certa em trair o tal lorde, porque os poodles machos
são um bando de pé no saco. Detesto quando o primo Bolinha vem aqui no sítio,
ele morre de medo de tudo, não gosta de caminhar por aí nem nada, só quer ficar
lá com os humanos dele. As primas Lulu e Fadinha são piores, quando vem aqui é
inferno, já chegam com aquelas roupas, cheias de lacinhos na cabeça...
Mano, aquilo
é tão ridículo!
Vem pra cá e
ficam me enchendo o saco, falando de passeios, petshops e fofocas, eu não tenho paciência. Eu não sou assim.
Prefiro mesmo sair por ai sem correntes, correr atrás daqueles gatos
insolentes, tomar banho de rio e até mesmo conversar com o lerdo do Rex, pelo
menos a gente se entende. Gosto dessa simplicidade, não troco nada disso por
aquelas frescuras que minhas primas vivem ostentando por aí. Garanto que se o
Malandro, o gato que anda por aqui, chegasse perto daquelas duas elas morreriam
de medo, porque aquele gato é danado, é esperto e mete medo, mas não tanto
quanto eu, claro.
Bom, agora
vou sair. Meus humanos já acordaram e vão abrir a porta para eu poder sair,
hoje o dia vai ser longo. Ah, preciso me lembrar de cobrar o meu osso a Lalinha,
minha vizinha, ela ficou de me arrumar um bem grande hoje, só espero que ela
cumpra o prometido pois ela tem mania de “esquecer”, mas ela não me engana.
Diogo Souza, 18 de julho de 2014
E
se seu animal de estimação falasse, o que você acha que ele diria? Comenta aí! J