Diogo Souza

Escritor e jornalista

'Você', o primeiro texto do Cara do Espelho | Crônica

Em 2013, estava procurando uns textos de 2010, mas só achei os de 2009. A seguir, você lê o meu primeiro texto, escrito em 26 de novembro de 2009, uma relíquia, se você achar legal ou lembrar de alguém comenta aí e compartilha.

Nada como encontrar velharias nos arquivos pessoais.

Você...


Você não sabe, mas eu te vejo. Como poucos, eu te enxergo, te sinto. Perdoe-me se pareço indiscreto ou invasivo. Quero que saiba que te admiro, mas não confunda as coisas, sou apenas o Cara do Espelho refletindo o que vejo da maneira que posso. Devo confessar que...

Certa vez ouvi sua gargalhada, uma grande gargalhada. Quem ouvisse pensaria: "Nossa, que pessoa feliz e para cima". Mas sei que, quanto mais alto o riso, maior é o silêncio dentro do peito. É como tentar intensificar a alegria ao extremo, querer anestesiar-se fazendo o riso ecoar dentro do vazio criado pela tristeza. Mas este não é um riso como os outros, você sabe disso,  ele termina com um suspiro de volta à realidade, não se permeia.

Nos seus gestos, vi a confusão entre uma pessoa adulta e uma criança. A adulta que precisa manter-se de pé, firme, valente e ainda ser o porto-seguro de outras pessoas. Por outro lado, tem a criança munida da mais pura e sincera alegria, que tem seus medos e suas birras e que transita facilmente entre o real e o imaginário, indo a mundos que julga melhores para se viver. As duas parecem brigar exigindo espaço.

Nada pode ser tão sério ou tão fantasiado, nos extremos é que as pessoas se perdem. Talvez o seu equilíbrio tenha sido abalado e ainda não pôde ser restabelecido. Você deve saber que algo está errado e que faltam alguns pedaços. Muitas vezes seu olhar se perde na imensidão de qualquer metro quadrado ou na escuridão de um novo horizonte. Como se algo te impedisse de recomeçar, de dar o primeiro passo por medo de errar e de ter que passar por tudo isso mais uma vez.

O Cara do Espelho
Texto de 26/11/2009