Diogo Souza

Escritor e jornalista

Por que eu bloqueei | Crônica | Cara do Espelho



Já fazem alguns meses que fui acometido por um bloqueio criativo horrível e simplesmente não tenho conseguido desenvolver nada para minha produção literária. Isso me deixa bastante frustrado, pois a escrita me realiza, me liberta e me alivia e ficar sem isso é bem complicado. Hoje, aproveitei o sábado livre e chuvoso para pensar sobre isso. Pensei em várias coisas e busquei as causas e a solução desse meu bloqueio na escrita.
O primeiro problema que identifiquei é o mais óbvio: a rotina. Há alguns anos, minhas preocupações e responsabilidades diárias eram bem menores do que as que tenho hoje. Minha vida tem se dividido à faculdade e ao estágio, têm sido dias cansativos e estressantes. Isso acaba me afastando a sensibilidade e me distanciando dos momentos de inspiração, cegando-me diante de situações e coisas que poderiam servir de estimulo à criatividade.
O segundo ponto que observei é a falta de leitura. Um escritor é, antes de mais nada, um leitor. Tenho lido muito pouco ultimamente, este problema é causado também pela falta de tempo e as demandas da faculdade, mas boa parte desse afastamento dos livros se deve à minha negligência e preguiça. Em 2013, por exemplo, cheguei a ler 40 livros e aquela foi uma fase em que minha escrita e estilo evoluíram bastante. Sem leitura, qualquer pessoa fica limitada.
Considerei a mudança de endereço o terceiro motivo para tal bloqueio. Pode até parecer desculpa de um procrastinador, mas eu sou muito metódico quanto às minhas atividades. Meu processo criativo envolve meu quarto, meu silêncio, minha música, minha solidão e meu café, qualquer mudança e influência externa acabam com o “clima” e geram um “climão”. Quando mudei de casa em 2014, levei meses até me adaptar e me sentir confortável no novo local e ter inspiração e condição para escrever. E neste ano, mudei de cidade e estou longe de casa e dos meus pais, ainda não consegui escrever algo verdadeiramente bom por aqui.
Há dois anos, além de menos responsabilidades e de morar com meus pais, eu também não enfrentava problemas afetivos. Sem querer ser exagerado, antigamente eu só gostava das novelas mexicanas, mas depois acabei descobrindo que minha vida amorosa foi (e acredito que ainda seja) uma dessas novelas. Claro, tais dramas levaram minha escrita a outro patamar e sinto que amadureci muito. Eu costumava escrever no auge das crises e conflitos e o excesso e a confusão de sentimentos eram os combustíveis para diversas crônicas e poesias ferozes ou melancólicas. Meus textos eram as lágrimas que não saiam pelos olhos, eram os gritos que não gritava e os desabafos que não verbalizava. Escrever me aliviava.
O problema é que depois de tanto tempo, acho que as forças esgotaram e nos últimos meses as coisas passaram a me atingir diretamente no emocional, então me fragilizei, me abati e parei de escrever. E como sempre escrevi como uma forma de terapia, o que produzia sempre esteve repleto dos sentimentos que me transbordavam. O problema era que a última coisa que eu queria era mexer em tais feridas. A escrita já não podia ser meu remédio e, pela primeira vez, foram os meus sentimentos que me afastaram da escrita.
Por sorte, esse drama todo aí já está zerado e sinto que agora minha sensibilidade está voltando e junto com ela a inspiração. Entender esse bloqueio me fez ter certeza que não vou parar de escrever. Eu não posso parar! Minha alma não pode ser represada porque ela transborda. Ela precisa derramar-se no papel, inundá-lo com palavras e sentimentos. É a minha essência.
Por isso estou tentando superar as barreiras que encontro no caminho e também aquelas que eu mesmo invento. Eu não vou parar. Faço (e escrevo) isso por mim, pelos textos que já escrevi e pelos meus leitores. Este é o meu pacto, minha promessa.
Este texto sobre bloqueio encerra o bloqueio.



Diogo Souza, 28 de maio de 2016
Aracaju/SE